sábado, 18 de maio de 2013

Diferenças doutrinárias: como os cristãos devem lidar com fato?

André Alves
Da Redação, com colaboração de Núbia Araújo




CNBB
Dom Francisco Biasin é bispo na Diocese de Volta
Redonda/Barra do Piraí e também membro do
Conselho para o Diálogo Inter-religioso da Santa Sé
 

No trabalho para a unidade dos cristãos, a dificuldade, talvez a mais evidente, está nas afirmações que dizem respeito à doutrina de cada Igreja cristã.

O Presidente da Comissão Episcopal da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) para o Ecumenismo, Dom Francisco Biasin, confirma a existência destes debates em torno da doutrina e considera que eles provêm de interpretações diferentes dos dados bíblicos. Segundo ele, as variadas tradições eclesiais, a cultura dos povos e as formas de estudos teológicos são os fatores que mais influenciam na interpretação das questões bíblicas.



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Apesar de dizer que o mais importante são os pontos comuns entre as Igrejas, Dom Biasin ressalta o valor de se debater e esclarecer a doutrina. "O importante é sentar e conversar sem preconceito; ver o que é questão cultural e quais são os dados da fé e, juntos, com a presença do Senhor que prometeu estar presente quando dois ou mais estiverem reunidos em seu nome (cf. Mt 18,20), procurar o caminho de Cristo. E isto, num novo contexto, inclusive, que apela para a unidade".

As questões culturais, segundo o bispo, têm grande influência nas discussões sobre doutrinas. Como exemplo disso, ele cita o que aconteceu no caso da justificação com a Igreja Luterana.

“Na comissão luterano-católica, há cerca de 27 anos, chegou-se a um comum acordo assinado pelo representante da Igreja Luterana da Alemanha e pelo cardeal Kasper, prefeito do Pontifício Conselho para Unidade dos Cristãos. No acordo, colocando as posições uma ao lado da outra, encontrava-se quase que um terceiro caminho compreendido pelas duas Igrejas, que possibilitara uma unidade ainda mais profunda, também doutrinária sobre a questão”.

Com esse exemplo, Dom Biasin conclui que entre católicos e luteranos dizia-se praticamente a mesma verdade, mas com fórmulas diferentes ou com expressões culturais diferentes.

Para o bispo, é importante que se tenha a coragem para promover encontros ecumênicos que não fiquem apenas nas "boas maneiras", mas que condicionem conversas também sobre a doutrina. Esse diálogo faz emergir e ressaltar inclusive, os pontos positivos e comuns entre as Igrejas.


Dialogar, mas sem perder a identidade

Para fazer o diálogo ecumênico, é preciso preservar a identidade, ressalta Dom Biasin. "Não dialogo com meu espelho, mas dialogo com quem tem outra maneira de compreender a verdade e a realidade. Ai de mim se eu perder a minha identidade, eu não dialogo mais! E ai de quem dialoga comigo, se perder a sua identidade, para ser igual a mim".

De acordo com o bispo, a identidade é a base de qualquer diálogo e, sem perdê-la os cristãos devem buscar o que caracteriza a compreensão do dado da fé nas várias Igrejas, encontrando pontos comuns.


O ecumenismo no dia a dia das pessoas

O ecumenismo está presente também nas realidades cotidianas das pessoas. Há questões ecumênicas a serem tratadas num relacionamento de jovens católicos que namoram jovens evangélicos, por exemplo. Os professores de Ensino Religioso nas escolas, constantemente, são convocados a se confrontarem e, ao mesmo tempo, encontrar caminhos comuns para a discussão sobre o assunto com os alunos.

Exemplos de situações próprias do dia a dia não faltam. Dom Biasin classifica estas situações como “ecumenismo do povo”, ou seja, aquele que acontece na base, na vida de cada dia, nas famílias, nas escolas, no trabalho. Para ele, este é um campo imenso de trabalho que começa com a necessidade de uma reflexão que ajude as pessoas a conviverem com o diferente. “É no dia a dia que acontece o verdadeiro ecumenismo”.

Nesse sentido, Dom Francisco destaca que o mais importante é dar ênfase aos pontos que existem em comum. "Eu vejo a riqueza do outro e posso dar a minha riqueza também. Nós temos que dar um passo ao acolhimento do outro que tem vivência cristã igual a minha. Temos muitos pontos em comuns. E a gente não pode se perder em questões marginais quando temos um chão comum e, sobretudo, somos irmãos".

Por fim, conclui o bispo, a unidade entre as Igrejas cristãs é um dom, não é uma conquista apenas da gente. A Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos responde à oração e ao desejo de Jesus: "Que todos sejam um..."


Mais detalhes na reportagem de Fernanda Ribeiro:

 

 
 

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