sexta-feira, 29 de novembro de 2013

A verdadeira reforma de Francisco


O Papa Francisco é um servidor da Palavra e, como tal, preservará a doutrina de dois mil anos da Igreja
 

Encerrou-se, no último domingo, o Ano da Fé, convocado pelo Papa Bento XVI como "convite para uma autêntica e renovada conversão ao Senhor, único Salvador do mundo"01. A solene celebração que teve lugar na Praça de São Pedro, em Roma, festejava Cristo, Rei do Universo. Mas, podia-se dizer que comemorava, ao mesmo tempo, a fidelidade de toda a Igreja ao ministério petrino – cuja força e autoridade derivam, por óbvio, do reinado supremo de nosso Senhor Jesus Cristo. Foi este sentimento que tomou conta dos fiéis do mundo inteiro diante da exposição das relíquias de São Pedro à veneração pública.

Uma escavação ordenada pelo Papa Pio XII identificou, no ano de 1939, uma parede funerária com a inscrição grega "Petrus eni – Pedro está aqui". Embora nenhum Pontífice tenha declarado de modo definitivo que se tratasse dos ossos do bem-aventurado apóstolo Pedro, o Papa Paulo VI afirmou que os fragmentos encontrados sob a Basílica de São Pedro foram "identificados de uma maneira que consideramos convincente"02. Agora, pela primeira vez em séculos, o Papa Francisco trouxe à vista este precioso tesouro dos tempos apostólicos: as relíquias do primeiro Papa.

Trata-se de uma ocasião extraordinária para clamar, com o hino oficial do Ano da Fé: "Credo, Domine, audage nobis fidem – Creio, Senhor, aumentai a minha fé". Os ossos de São Pedro não são meras quinquilharias, nem sequer "ídolos" para desviar a adoração devida somente a Deus; ao contrário, renovam a certeza da fé católica e transmitem o fulgor entusiasmante deste edifício que é a Igreja, convidando as pessoas a voltarem-se à beleza "tão antiga e tão nova" exaltada por Santo Agostinho.

Às vésperas do Concílio Vaticano II, o beato João XXIII falava justamente do frescor de uma Igreja "sempre viva", que "sente o ritmo do tempo e que, em cada século, se orna de um novo esplendor, irradia novas luzes, realiza novas conquistas, permanecendo, contudo, sempre idêntica a si mesma, fiel à imagem divina impressa em sua face pelo esposo que a ama e protege, Jesus Cristo"03.

Ao fim do Ano da Fé, parece ser esta a mesma mensagem que o Papa Francisco quer passar a toda a Igreja. Na exortação apostólica Evangelii Gaudium, publicada no último domingo, Sua Santidade pede "exprimir as verdades de sempre numa linguagem que permita reconhecer a sua permanente novidade", afinal, "uma coisa é a substância [do ‘depósito da fé’] (...) e outra é a formulação que a reveste"04.

O Papa fala da "permanente novidade" das "verdades de sempre", isto é, a verdade do Evangelho que traz, em si mesma, um impulso de atualidade. Não é preciso, para tornar a mensagem de Cristo mais atrativa, fazer modificações e adaptações tais que acabem por desfigurar a beleza da boa notícia.

Durante uma de suas homilias matutinas, recentemente, Sua Santidade advertiu para isto: o perigo do que chamou "espírito do progressismo adolescente", que "crê que andar adiante em qualquer escolha é melhor que permanecer nos hábitos da fidelidade". "Essas pessoas negociam a fidelidade ao seu Senhor", disse. "Essa gente, movida pelo espírito do mundo, negociou a própria identidade, negociou a pertença a um povo, um povo que Deus ama tanto, que Deus quer como seu povo"05.

A este "progressismo" mundano o Papa contrapõe a fidelidade às "verdades de sempre". Um olhar honesto ao novo documento pontifício permite identificar a autêntica personalidade do Santo Padre. Ao contrário do "sequestro" que os meios de comunicação fazem com as palavras de Francisco, usando-as para sustentar posicionamentos midiáticos claramente políticos e ideológicos, o Papa deve ser analisado pelas fontes que usa e por aquilo que verdadeiramente fala.

A exortação Evangelii Gaudium traz consigo inúmeras referências aos magistérios de Bento XVI, João Paulo II, Paulo VI, João XXIII; reafirma a oposição da Igreja ao aborto - "um ser humano é sempre sagrado e inviolável, em qualquer situação e em cada etapa do seu desenvolvimento" (n. 213); recorda que "o sacerdócio reservado aos varões, como sinal de Cristo Esposo que Se entrega na Eucaristia, é uma questão que não se põe em discussão" (n. 104); e traz muitos outros ensinamentos, que mostram que este pontificado é mais um signo de continuidade.

Ao texto papal segue-se o desespero dos anticlericais: eles esperavam de Francisco uma "reforma" como a de Lutero, que acabou mais por desfigurar a Cristandade que por configurá-la a Cristo de fato. Os jornalistas e informantes da grande mídia ainda não aprenderam que as verdadeiras reformas - que renovam mesmo a Igreja - partem de dentro, da ação do Espírito Santo que anima e vivifica todo o Corpo Místico de Cristo; e não do espírito mundano, de cuja adesão só pode vir a desordem e a anarquia. Ainda assim, ao invés de rasgar as vestes, muitos no mass media preferirão explorar covardemente a figura do Papa a transmitir a seus leitores e espectadores a verdade de que o Papa é um servidor da Palavra e, como tal, preservará a doutrina de dois mil anos da Igreja.

A apresentação pública das relíquias de São Pedro é um fato emblemático: aponta ao que Francisco, assim como seus predecessores, está a fazer com o Papado e com a Igreja: conduzi-los constantemente ao "fundamento dos apóstolos" (Ef 2, 20), fora do qual não há, e nem pode haver, autêntico cristianismo.



Por Equipe Christo Nihil Praeponere

 

Referências

 
  1. Carta Apostólica Porta Fidei, 11 de outubro de 2011, Papa Bento XVI
  2. Udienza Generale, 26 giugno 1968, Papa Paolo VI
  3. Constituição Apostólica Humanae Salutis, 25 de dezembro de 1961, Papa João XXIII
  4. Exortação Apostólica Evangelii Gaudium, 24 de novembro de 2013, Papa Francisco
  5. Il Papa: Dio ci salvi dallo spirito mondano che negozia tutto e dal pensiero único


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